Pela janela aberta daquele décimo andar, se alguém pudesse olhar de fora para dentro, veria uma mesa pequena e redonda num espaço que, provavelmente, seria uma sala de jantar. Perceberia, pela janela, um ambiente simples, sem muito ornamento, embora pertencesse a uma mulher (O que ficava claro por conta daquela toalha quadriculada em tons diferentes de vermelho sobre um fundo alvo, com um jarro de flores amarelas e brancas em cima, e por causa dos pratos e talheres para duas pessoas dispostos à la buffet sobre a mesa redonda com aquela toalha quadriculada). Era a casa dela sim, mas, talvez, fosse dele também, dos dois. Quem seriam eles? Os dois seriam estranhos ao observador aéreo e não se dariam a conhecer em momento algum, pois estariam em outro cômodo, a que aquela janela não dava acesso visual. E nada mais se veria, mesmo que o observador, supostamente alado, mudasse de ângulo à la volonté. Todo o resto era somente aquela sala de jantar vazia por onde ecoava ama voz da mulher vinda de algum lugar, do apartamento:
- Gerard, diz que você não quis dizer o que disse, diz. Olha para mim, Gerard...
Fala que ainda me ama e repete aquele galanteio que eu adoro: 'Simone, mon amour...'
Ei, olha para mim por favor! Eu estava lembrando daquele dia, agora a tarde. Aquele dia, você sabe, o nosso dia!? Ficamos, nós dois, aqui sozinhos a tarde inteira enquanto lá fora chovia, eu adorei ficar assim com você.
Gerard, olha para mim!!! O que foi que aconteceu, heim? Ou quem foi que...
Chega. Eu já entendi...
Como é que você fez uma coisa dessas comigo? Eu fui tão idiotamente passional com você, Gerard, passei a viver em sua função, passei a depender organicamente de você, seu cafajeste! Vá embora, vá. Era tudo mentira, não é: 'Simone mon amour', tudo mentira.
Pára! Eu não pedi que você enxugasse minhas lágrimas.
Sai, não quero que me beije.
Gerard, não me segura assim... Gerard... Gerar... Fica Gerard, fica...
- Não dá mais, Simone. Acabou...
O pianista dedilha de forma espaçada, mas forte, enquanto a voz tremula e chorosa de mulher balbucia:
"Ne me quitte pas... Ne me quitte pas... Ne me quitte pas..."
- Gerard, diz que você não quis dizer o que disse, diz. Olha para mim, Gerard...
Fala que ainda me ama e repete aquele galanteio que eu adoro: 'Simone, mon amour...'
Ei, olha para mim por favor! Eu estava lembrando daquele dia, agora a tarde. Aquele dia, você sabe, o nosso dia!? Ficamos, nós dois, aqui sozinhos a tarde inteira enquanto lá fora chovia, eu adorei ficar assim com você.
Gerard, olha para mim!!! O que foi que aconteceu, heim? Ou quem foi que...
Chega. Eu já entendi...
Como é que você fez uma coisa dessas comigo? Eu fui tão idiotamente passional com você, Gerard, passei a viver em sua função, passei a depender organicamente de você, seu cafajeste! Vá embora, vá. Era tudo mentira, não é: 'Simone mon amour', tudo mentira.
Pára! Eu não pedi que você enxugasse minhas lágrimas.
Sai, não quero que me beije.
Gerard, não me segura assim... Gerard... Gerar... Fica Gerard, fica...
- Não dá mais, Simone. Acabou...
O pianista dedilha de forma espaçada, mas forte, enquanto a voz tremula e chorosa de mulher balbucia:
"Ne me quitte pas... Ne me quitte pas... Ne me quitte pas..."
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