terça-feira, 21 de setembro de 2010

VINTE E POUCAS COISAS de Arimatéia Moura Filho


Esse blog não vai ser atualizado! Inicialmente, a minha idéia era deixar postadas 'vinte e poucas coisas' escolhidas entre as que eu tenho escritas (umas já publicadas em algum blog e outras inéditas), mas pensando bem, eu vou ter esse espaço como prévia de uma publicação (livro mesmo) homonima contendo na íntegra o tal Projeto. Na versão impressa, que sairá ainda não sei quando, eu vou trazer o restante das vinte e poucas coisas prometidas aqui - no momento elas ficam em segredo.
Mas mas antes de mais nada, quero dizer que fico super honrado com a sua visita, e mais ainda com os comentários que você fará, aqui mesmo, por e-mail ou pessoalmente. Quero dizer ainda que estou procurando uma editora, se você é dono de uma e quiser investir eu ficarei sorrindo à toa!

Espero que goste daqui, que volte sempre e que divulgue, que converse comigo sobre os textos, mesmo que não poste comentários. Leia tudo até o fim, e depois releia e viaje sempre!

Especialmente, eu agradeço ao meu amigo Yuri Yamamoto, que me mandou umas ilustrações lindas de mais pra alguns dos textos - quando a publicação sair quero muito que as ilustrações sejam dele. Yuri, valeuzão pelo incentivo. Eduarda Talicy, você é uma super incentivadora também!

Em fim, é isso.
Boa leitura.

Ari Fils

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O MENINO

O Menino é um infantil adulto, tem uma coisa de filosófico, tanscedental, foi escrito por causa de uma situação bem específica, mas ficou bem geral olhando agora. Meu amigo, Yuri Yamamoto, sugeriu que eu fizesse mais coisas como esse Menino e publicasse um infantil, acho que dá certo. De 13 de outubro de 2008.

O meu cabelo azul é na verdade laranja, não vê?! É sim!

Eu gosto de jogar bola, bila, bula... Eu gosto de ler! Eu de saco cheio da TV.
E pra que esse cabelinho colorido, perguntam. Ora "pra que?" Parece que nam...!
Pra te chamar a atenção, bobo! E isso não significa que é pra aparecer.
Escute agora a história que eu vou contar: Era uma vez um menino brasileño que nasceu no Siará. Ele tinha um elefante verde-claro que usava uma coleira lilás, que latia feito gato e miava feito cão, e subia na parede feito gente que não tem o que fazer, o elefante não o menino. E de repente virava um leão, o menino não o elefante, e passava a ser o rei do jardim, porque a floresta era longe e, também, pra que ele não se acostumasse com uma floresta que em 20 anos ia desaparecer. O menino tinha o cabelo colorido, e um dia disseram pra ele que "era legal, mas que só não dava pra entender o porquê daquele cabelinho". Ai ele resolveu chorar por causa disso e quando percebeu, estava careca, o menino!
Eu vou é viajar! Pra aquele lugar de nome legal onde eu sou amigo do rei. Eu vou de avião e sou eu mesmo quem vai pilotar! E se eu fosse de submarino? Ou de balão?! Êba, viajar de balão! Balão também é colorido! Será que vai ser azul o meu balão... ou vai ser laranja? Já sei, vai ser transparente, pra que ninguém mais diga que "é legal, mas que só não dá pra entender por que o balãozinho colorido."

SILENCE

Esse poema é de 10 de outubro. Eu era adolescente de mais quando escrevi, hoje ele me parece um pouco meloso... mas mesmo assim eu acho bonito. É diferente, na minha opinião.

Que há nesse teu olhar?
Por mais que eu te evite
Há vontade de encarar.
É um olhar, ou um convite?

Que foi que viste em mim?
Ou quem foi que viste?
Se me respondes olha
ndo assim
Fala comigo, insiste!


Porque não falo eu?
Ora... sei lá, deveria falar!
Sussurrar que posso ser teu...
Que resposta ias me dar?


Não! É assim mesmo que vamos ficar,
Gritando o quanto nos queremos,
No silêncio do nosso olhar.

FLOR DA PELE

Esse texto é de 15 de outubro de 2008. Um pouco antigo, né? Tem umas sensações interessantes, uns sabores interessantes, gosto dele, embora seja dificil de entender, faça suas inerpretações fique à vontade. Ele foi publicado inicialmente em ariareia.blogspot.com

São sete e vinte. Resolvi escrever sobre coisas mais entendíveis a todos, sobre coisas como flores, por exemplo. Flores são um assunto que a maioria aprecia, se não me engano. Particularmente, nunca gostei muito de escrever sobre flores, mas se for o caso escrevo. Acho que há mais graça em ler algo que eu não consiga entender realmente o porquê daquilo, do que em ler coisas que me limitem, que digam de cara sobre o que estão falando. Na verdade eu tinha mesmo era resolvido parar de escrever, mas não consegui. Na verdade mesmo, tive vontade foi de escrever, sob esta folha de papel, com tinta branca para que ninguém mais lesse. "Ando tão à flor da pele que o meu desejo se confunde com a vontade de nem ser." Foi aquele beijo de novela, ou aquele brigadeiro, o que me deixou assim!
Teus cabelos longos eram mais escuros, Clara. Mas teus cabelos claros ainda são longos, tu não os corta. E a música parou por quê? Bati com o pé no som do carro, sem querer? "Meu amor, cadê você? Eu acordei, não tem ninguém ao lado". Um Copo-de-leite, sem açúcar, por favor, Magnólia - era esse o nome da professora do primário -, e Rosa, lembrei, era aquela mulher gorda que trabalhou lá em casa quando eu tinha oito anos. Cabreúva nunca trabalhou lá em casa, nem Biscoito, a mulher do Tavares. E tu, que me queimas com teus beijos vermelhos, és flor também? Não diria que és flor, diria que és mais, "Tu és bonita e graciosa, estátua majestosa!" E diria mais ainda se não fosse tão tarde e eu tivesse que sair agora. Já são sete e dez.

domingo, 12 de setembro de 2010

LE GRAND CAFÉ

Textozinho pequeno, mas bem simpático. Escrito pelo peruano Gentil D´lavôr, em Paris.
Gentil D´lavôr, um heterônimo meu com mais textos publicados no meu cortejosutil.blogspot.com


Estou no Le Grand Café tomando um expresso, sentado àquela mesa onde me viste outro dia sentado tomando um expresso quando passaste na calçada do lado oposto da Avenue e me sorriste. Sorriste, mas não paraste e carregaste um quê de mim naquele sorriso tímido. Foi o sorriso mais silenciosamente melodioso que já recebi, e o foi a tal ponto que chegou a emudecer o realejo que cantava romanticamente para o casal sentado na mesa ao lado da minha. A música do realejo foi se misturando com a melodia do teu sorriso até que o teu sorriso sobressaiu a musica do realejo. E eu te acompanhei caminhar com meu olhar lânguido até que dobraste a esquina saindo do meu campo visual, saindo do Boulevard des Capucines, deixando-me aqui com o meu expresso e sem um quê de mim... Foi por isso que voltei agora, à mesma hora, esperando que passes e me sorrias de novo, emudecendo o velho realejo, já cansado de tocar ao vento, à espera de que se forme algum casal...

Gentil,

ATELIER

Um soneto, mudei uma coisinha pouca da primeira versão dele. Ela, a primeira versão, está publicada no meu cortejosutil.blogspot.com

Faça planos para mim

Se isso te faz mesmo bem.
E para não fantasiar,
Use apenas preto e branco.

Mas, querendo, fantasie!
Dê mais vida a esses traços,
Jogue tinta colorida:

Pinte... mãos entrelaçadas,

Deite o céu inteiro a baixo,
Deixe o chão todinho azul,
- Reinvente a paisagem -

Risque retas entre as nuvens
Para lá pôr versos teus,
Os que ainda eu não te disse.

CRÔNICO

Esse texto, é interessante, faz parte de um bocado de coisas que tenho assinadas pelo Gentil D´lavôr, um cosmopolita que nasceu no Peru, que volta ou outra está em Paris - e que, por sinal, ama Paris. Eu tenho achado o Gentil cada vez mais interessante, agora mesmo porque lendo umas coisas do Marcio Vargas Llosa, entre elas "As travessuras da menina má" (recomendo inclusive), percebi como o Gentil parece uma criação do Márcio ou até cópia do seu 'Ricardito'. Mas não é, é uma coisa que surgiu na minha cabeça durante umas voltas pelos corredores que ligavam o bloco I e o H do campus do Itaperi, mais ou menos em dezembro de 2009. Por que peruano? Eu fazia a cadeira de América I, na época. Há mais do Gentil em www.cortejosutil.blogspot.com

Expressei-me tão mal durante aquela nossa última conversa que estou sem saber como tecer o reajuste textual para o engodo que criei. Pode até ser que eu me complique mais com isto que vou dizer, mas vou falar que é para você ter uma noção sobre como eu estou: Sinto-me tal qual uma aranha-fêmea que, depois do enlace amoroso, mata seu parceiro – e eu nunca tinha matado ninguém, até então; não minto quanto a isso. No entanto, diferente da aranha, eu sinto um remorso, sabe. Não pelo que fiz, mas pela forma como narrei o feito.
Até porque a Falecida mereceu o fim que lhe foi dado, não por mim, pela força dos instintos aracnídeo-femininos que se insurgiram nesta minha natureza humano-masculina. Embora eu não a tenha destrinchado para dar de comer à ninhada, que nem ninhada existiu no nosso caso, eu destrocei a carne dela, osso por osso, músculos e ligamentos, arranquei-lhe os cabelos, os beiços, os dentes, os olhos - em uma linguagem menos escatológica - eu desconstruí o mito que, a punho próprio, criei sobre a Dita Cuja, a Pessoa, Aquela Lá, a Falecida...
"Não se refira assim quanto a mais ninguém, está me ouvindo?" Tudo bem, mãe, foi só um acesso de irA, mas já passou. E foi importante para mim vomitar isso tudo, estou um tanto menos aranha, mais garoto. Ufa, estou de volta! Inclusive, até encontrei a Moça, num coletivo, semana passada, viva.... Para você vê como as coisas são.
E decidi: não pretendo matar mais ninguém, juro! Isso só aconteceu dessa vez porque ela quis sufocar a minha garganta, quis jogar-me dentro de um mundo fantasioso, redomado – como um pote de Nescafé – e fechar a tampa deixando que eu asfixiasse até o fim. Talvez seja mais doce morrer no mar que fechado dentro de um pote de Nescafé. Ah, e como eu ando confuso em relação a algumas coisas ultimamente, não sei se você entenderia, ou se se importaria, então nem vou tentar explicar. Mas não tenho feito muitos planos atualmente, nem sequer tenho refeito os planos velhos, mofados já do tempo, os que ficam em gavetas de algum criado-mudo.

Seria bom que os criados-mudos falassem de vez em quando! Mas seria revolucionário de mais ou, ao menos, paradoxal de mais: criados-mudos falantes. Acho melhor parar um pouco, estou ficando com dor de cabeça. Essa coisa de ‘criados-mudos que falam’ e ‘canibalismo entre as aranhas’ foi de mais para mim.
Aceita um café?

Gentil D´lavôr
Cusco, Peru
34 de janeiro de 3050


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

APARTAMENTO

Esse texto é de 25 de novembro de 2008, o original está em www.ariareia.blogspot.com, existe uma outra postagem dele no cortejosutil.blogspot.com. Aqui ele vem rReformulado, na minha opinião, melhorado.

Pela janela aberta daquele décimo andar, se alguém pudesse olhar de fora para dentro, veria uma mesa pequena e redonda num espaço que, provavelmente, seria uma sala de jantar. Perceberia, pela janela, um ambiente simples, sem muito ornamento, embora pertencesse a uma mulher (O que ficava claro por conta daquela toalha quadriculada em tons diferentes de vermelho sobre um fundo alvo, com um jarro de flores amarelas e brancas em cima, e por causa dos pratos e talheres para duas pessoas dispostos à la buffet sobre a mesa redonda com aquela toalha quadriculada). Era a casa dela sim, mas, talvez, fosse dele também, dos dois. Quem seriam eles? Os dois seriam estranhos ao observador aéreo e não se dariam a conhecer em momento algum, pois estariam em outro cômodo, a que aquela janela não dava acesso visual. E nada mais se veria, mesmo que o observador, supostamente alado, mudasse de ângulo à la volonté. Todo o resto era somente aquela sala de jantar vazia por onde ecoava ama voz da mulher vinda de algum lugar, do apartamento:
- Gerard, diz que você não quis dizer o que disse, diz. Olha para mim, Gerard...
Fala que ainda me ama e repete aquele galanteio que eu adoro: 'Simone, mon amour...'
Ei, olha para mim por favor! Eu estava lembrando daquele dia, agora a tarde. Aquele dia, você sabe, o nosso dia!? Ficamos, nós dois, aqui sozinhos a tarde inteira enquanto lá fora chovia, eu adorei ficar assim com você.
Gerard, olha para mim!!! O que foi que aconteceu, heim? Ou quem foi que...
Chega. Eu já entendi...

Como é que você fez uma coisa dessas comigo? Eu fui tão idiotamente passional com você, Gerard, passei a viver em sua função, passei a depender organicamente de você, seu cafajeste! Vá embora, vá. Era tudo mentira, não é: 'Simone mon amour', tudo mentira.
Pára! Eu não pedi que você enxugasse minhas lágrimas.
Sai, não quero que me beije.
Gerard, não me segura assim... Gerard... Gerar... Fica Gerard, fica...
- Não dá mais, Simone. Acabou...
O pianista dedilha de forma espaçada, mas forte, enquanto a voz tremula e chorosa de mulher balbucia:
"Ne me quitte pas... Ne me quitte pas... Ne me quitte pas..."

Dois Mil e Desencontros

'Doismiledezencontros' assim como 'Econtro', é inédito. Eles dois fazem parte de um punhado de textos que eu tenho escritos e pretendo usar no teatro algum dia. É uma conversa, é uma série de conversas, é... é melhor você mesmo ler.

UM -  Sabe... a impressão que eu tenho é a de que cada encontro nosso é como se fosse o primeiro....
OUTRO - Sério?! Que bom...
UM - Bom, nada! Eu tenho essa impressão porque nós nos encontramos, ficamos juntos por umas horas e depois vai cada um pro seu lado. Viver, cada um, a sua vida...
OUTRO - Como se não existisse história entre a gente...
UM - como se não existisse história entre a gente... Sinceramente, eu não sinto você como participante da minha vida. E... realmente, eu não me sinto como alguém participante da sua.
OUTRO - O lance é mais físico, é isso o que você quer dizer?
UM - Não, não é isso o que eu quero dizer.
OUTRO - E o que é que você quer dizer, então?
UM - Eu estava, exatamente, dizendo quando você perguntou o é que eu queria dizer.
OUTRO - Ué, então continua.
UM  - ...
OUTRO - E ai...
UM - E ai, que agora eu esqueci. Mas, deixe, eu vou lembrar.
OUTRO - Ah, você se lembra de como a gente se conheceu?
UM - Mentira, você lembra!?
OUTRO - Não, eu perguntei justamente porque não lembro...
UM - ...
OUTRO - Desculpe, foi grosseiro da minha parte, né?
UM - Não... Quer dizer, claro, foi sim; e Isso me deixou um pouco triste. Mas é que eu também, não consigo me lembrar...
OUTRO - Do que?
UM - De como foi que a gente se conheceu. O lugar mais remoto, na minha memória, sobre o assunto, é o jardim da sua casa, mas eu acho que, antes do jardim, a gente já vinha junto de outro canto. Depois me vem a sua sala-de-estar e a sua cozinha, uma taça de vinho, a última fileira de cadeiras do teatro do BNB, beijos na cozinha mesmo, beijos no carro. E um barzinho legal, e a gente andando, a gente andando na beira-mar e a gente indo de carro pra uma praia longe daqui. Mas acho que estou misturando os episódios todos.
OUTRO - É...
UM - É?!
OUTRO - É... não é?!
UM - Sabe... a impressão que eu tenho...
OUTRO - É a de que cada encontro nosso é como se fosse o primeiro?!
UM - Isso! Você também tem essa impressão?
OUTRO - Tenho. A gente se encontra, fica junto por umas horas e depois vai cada um pro seu lado, viver, cada um a sua vida... Como se não existisse história entre a gente... O lance é mais físico, é isso o que você quer dizer?
UM - Não, não é isso o que eu quero dizer.
OUTRO - E o que é que você quer dizer então?
UM - Que, não parece, mas, é bem maior o que existe entre a gente. Que, se fosse apenas um lance físico, já tinha acabado. Que a gente talvez nem tivesse se encontrado uma segunda vez, depois que se conheceu. Que, se sentimentos fortes são coisas que podem acabar, o que se dirá de lances apenas físicos. E olha que a gente vive esse lance há um tempão já.
OUTRO - É mesmo! Pode não ter muito nexo... mas eu sinto você como alguém participante da minha vida.
UM - De verdade!? Eu, também, sinto você como alguém participante da minha.
OUTRO - Me diz uma coisa, você lembra como foi que a gente se conheceu?
UM - Lembro!
OUTRO - Sério?!
UM - Não, blefei.
OUTRO - O lugar mais remoto, na minha memória, sobre o assunto, é o jardim da minha casa, mas eu acho que, antes do jardim, a gente já vinha junto de outro canto. Depois me vem a minha sala-de-estar e a cozinha, uma taça de vinho, a última fileira de cadeiras do teatro do BNB, beijos na cozinha mesmo, beijos no carro. E um barzinho legal, e a gente andando, a gente andando na beira-mar e a gente indo de carro pra uma praia longe daqui. Mas acho que estou misturando os episódios todos.
UM - Não!
OUTRO - Não?!
UM - Acho que não, né?
OUTRO - Então é.
UM - É?
OUTRO - É, sim! Aliás, poderia até nem ser, mas agora é.
UM - Gosto dessa sua certeza sobre as coisas...
OUTRO - E eu adoro essa sua... habilidade com as palavras...
UM - Sabe a impressão que eu tenho...
OUTRO - É a de que cada encontro nosso é como se fosse o primeiro. Como, não existe história entre a gente?!
UM - Lembrei...
OUTRO - De como a gente se conheceu?
UM - Não, disso ainda não. Mas lembrei daquilo que eu ia te dizer naquela hora...
OUTRO - Aquilo...? Naquela hora...?
UM - É, aquilo sobre o nosso lance, que não era apenas físico.
OUTRO - Ah, sim... Então fala!
UM - Eu gosto de estar com você, entende?! Me dá segurança! É como se eu estivesse sempre... andando na calçada. Ou sempre... atravessando pela faixa de pedestres. Estar com você é como atravessar pela faixa de pedestres!
OUTRO - Nossa! Que coisa... romântica.
UM - Pois não é! Você me deixa assim, com essa inspiração toda.
OUTRO - To vendo... e você escreve?
UM - Sim, sim, eu tenho até um diploma daqueles de conclusão da Alfabetização: “Doutor do ABC”!
OUTRO - Não foi bem isso o que eu perguntei, mas tudo bem..
UM - Ah, eu ia mesmo te perguntar uma coisa.
OUTRO - Pois pergunta.
UM - Olha. Isso é pra você ver como as coisas são... Esqueci. Deve ter sido por causa desse negocio de faixa de pedestres, mexeu comigo....
OUTRO - Poxa, tenta lembrar.
UM - Não, nem adianta. Quando eu esqueço uma coisa, pronto, eu esqueço mesmo.
OUTRO - Enfim...
UM - Como assim?
OUTRO - Nada, só ‘enfim’ mesmo...
UM - Enfim, parece ‘fim’, você quis dizer alguma coisa com isso?
OUTRO - Não, imagina. Não... Fim é uma coisa que não combina muito com a gente, eu acho.
UM - É mesmo...
OUTRO - É...
UM - Sabe, a impressão que eu tenho
OUTRO - Eu sei, é a de que cada encontro nosso fosse como o primeiro.
UM - E isso é bom!
OUTRO - É, é bom, mesmo! Essa falta de história é a História que existe entre a gente...
UM - Você se lembra de como a gente se conheceu?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

QUERO

Quero é um texto que eu escrevi faz um tempo já, 9 de Abril de 2009,gosto bastante dele. Aqui eu fiz umas modificações, melhorias, mas o original está postado em. www.ariareia.blogspot.com

- O moço vai querer mais alguma coisa?
Vou, pensei. Vou querer todo o resto, tudo o que ainda não tenho: uma árvore, poderes mágicos, um cachorro adestrado, uma coleção de qualquer coisa... - tudo mesmo! E vou levar pra viagem, por favor, embale. Isso mesmo, pra viagem, porque eu vou querer sair por ai, gosto dessas coisas! E vou querer que você venha comigo pra me ajudar, pode ser que eu precise de alguém pra carregar - pra eu carregar ou pra me carregar - e pode ser que eu nem precise, mas vou querer levar você mesmo assim. Nunca se sabe ao certo o que ou quem vai ser necessário durante uma viagem. Aliás, eu vou querer mais, incluído nisso tudo que ainda não tenho, faço questão de querer tudo aquilo que não pude ter porque não me deixaram ter, e não vou querer segredo quanto a isso. Não, porque eu quero mesmo é que saibam, até pra que haja surpresa quando ficarem sabendo. Olhe, tome nota: vou querer, ainda, que o tempo volte, que o tempo pare e que, por algum tempo, não haja tempo, justamente pra que eu tenha tempo! E vou querer aprender a tocar piano, a pilotar avião, a fazer café de um jeito que me agrade - porque o meu café é horrível. E vou querer casar, ter meus filhos e mais tudo o que eu puder, com os olhos fechados, ver, e tudo com que eu sonhar de olhos abertos também. Com os olhos abertos...
- Moço?! Moço... MOÇO!
- Hum... ah. Não, eu não vou querer mais nada, viu, obrigado.
- Ei, moço, o seu troco...

domingo, 5 de setembro de 2010

ENCONTRO

Vem abrindo essa coletânea especial: Encontro, um texto inédito que faz parte de um possível projeto para teatro. Aqui em Vinte e Poucas Coisas você vai ler textos meus, uns antigos que revisei especialmente e outros inéditos, além de algumas fotos.

Quando tudo começou (a sensação estranha, a vontade de estar constantemente perto e o riso sem motivo aparente), havia apenas duas semanas que Turíbio conhecera Camille. Quem eram eles?! Turíbio, sedutor como ele só, era do tipo fisicamente atraente. Um homem na flor dos seus 25 anos, dificilmente desacompanhado, mas sempre solteiro. E Camille, uma mulher que era de um corpo... Mas que era muito mais que corpo, era um jeito de olhar, com seus olhos profundamente castanhos, um jeito de dispor o cabelo por trás da orelha direita usando a mão direita, e um sorriso que era assim: dela.

Turíbio, desde muito novo, estivera ciente: não poderia se entregar; ele conhecia as mulheres. Pelo menos, tinha uma leitura bem pessoal sobre elas. E dessa leitura bem pessoal que ele tinha sobre as mulheres, sabia que se envolver agora seria um erro! (Talvez, o que Turíbio sentisse fosse medo de que as mulheres fizessem com ele o que, geralmente, ele fazia com elas). ‘Não se envolva, Turíbio’, era o que pensava. E, foi exatamente o que ele fez nas últimas vezes, nos últimos anos (nos últimos finais de semana) a.C – antes de Camille - sempre dando, ele, a última palavra: “Não dá. Foi só uma aventura. Passou”.

Simples, era ver direito onde estava pisando, era usar as palavras certas, era evitar aquele verbo (Amar) conjugado na primeira pessoa do singular, no presente, e tudo ficaria sob controle. Mas ele pensava nela, mesmo quando não a tinha em seus braços, o que era estranho para ele. E tudo o que ele pegava tinha a textura da pele dela, tinha o cheiro dela. E ele e ela, agora, para Turíbio, eram eles, ou melhor, ‘nós’. Ai, é onde o caldo entorna! Quer dizer, onde mora o problema: quando eu e você tornamo-nos ‘nós’. Porque nem sempre ‘nós’ existimos com a mesma intensidade um para o outro ou com o mesmo valor um para o outro e, o pior, às vezes, ‘nós’ nem existimos para um de nós dois.

O caldo entornou mesmo. Entornou, porque Turíbio queria ver Camille, ela também queria, e eles se viam... Turíbio queria ver Camille, ela também, mas eles só se telefonavam (por causa de umas reuniões extraordinárias, na empresa dela, exatamente na hora dos encontros). E Turíbio estava morrendo de saudades de Camille, ela... também, então eles marcaram de se ver. Turíbio chegou dez minutos antes do horário combinado, Camille se atrasou uma hora (E, mesmo quando chegou, Camille não estava lá).

Seis meses depois disso (um intervalo de tempo onde eles se viam apenas semanalmente e na casa dela. Porque ele precisava ir até lá para vê-la), seis meses depois, Turíbio marcou outro encontro, num restaurante bem romântico e caro. Nesse último, Camille demorava já mais de duas horas, quando Turíbio resolveu achar que ela tinha errado o endereço, e que andando pelas ruas da cidade, sem saber onde estava, foi se perdendo. Imaginou que nessa caminhada perdida haviam roubado a bolsa dela, por isso o celular não atendia, e ele passou a andar pelos becos, ruas e vielas daquela região central da cidade procurando por Camille (que talvez estivesse em outro restaurante, na frente de outro homem, nos lábios desse outro homem. Ou numa reunião extraordinária, na empresa dela, embora aquilo fosse um sábado à noite).

Turíbio sentou numa parada de ônibus e ficou esperando... Mas não passava. Não passava, mesmo porque Turíbio não sabia o que queria apanhar! Aliás, não passava porque ele sabia que queria, mesmo, era apanhar. E Turíbio quis gritar (como a gente às vezes quer gritar numa fila de teatro ou de banco ou num ponto de ônibus, quando a espera é aparentemente interminável): CAMILLE! Foi ai que ela apareceu: Simone. Ela, assustada com o grito que ele deu, justamente na hora em que a porta do ônibus abriu, perdeu o equilíbrio e caiu, ao descer do coletivo, machucando o tornozelo esquerdo. A casa dela ficava naquela mesma avenida, um edifício residencial, desses poucos ainda existentes no centro. Ela morava no terceiro andar.

Simone, que era solteira e morava sozinha, se desesperou ao ver que não conseguiria andar, muito menos subir a escadaria até o número 301 daquele prédio sem elevador. Turíbio prestou socorro, o mínimo que poderia fazer. Tomou-a nos braços e levou-a até o cimo daqueles três andares de degraus. Abriu a porta, com a chave que Simone tirou da bolsa, um pouco nervosa, entrou com Simone ainda nos braços e deitou-a respeitosamente numa cama – por sinal, arrumada com certo desleixo, denunciando que ela acordara atrasada e fizera o serviço às pressas. Mas ele nem percebeu isso, porque, nesse momento, olhava nos olhos castanhos daquela mulher e via olhos profundamente castanhos que possuíam O Olhar.

Simone, constrangida pela situação e cansada depois de um dia inteiro de trabalho, (mas extremamente satisfeita em lembrar que um homem como aquele a havia carregado nos braços da rua até o quarto, colocado-a delicadamente sobre cama e agora a estava olhando daquele jeito...) usando a mão direita, ela, ajeitou o cabelo por traz da orelha direita, enquanto a mão esquerda mexia no tornozelo lesionado. Turíbio, que continuava observando-a de longe, aproximou-se, abaixou-se e colocou suas duas mãos sobre a de Simone (que massageava o machucado) envolvendo-a. Após algum tempo de cabeça baixa e olhos fitando aquela mão feminina envolvida pelas suas masculinas, Turíbio levantou o olhar vagarosamente, mergulhando, os dois, simultaneamente, um no olhar do outro.

Simone sentiu a respiração forte daquele homem que a carregou nos braços, sentiu o cheiro daquele homem que também sentia o seu cheiro e que inspirava e respirava quase em sincronia com o palpitar, lento, mas nervoso, do coração dela. Simone e Turíbio se olharam, se quiseram, se beijaram, se tiveram. Turíbio conheceu a Simone e esse foi o grande encontro da noite.